quinta-feira, 28 de agosto de 2014

vote em Luísa para a prestação de contas!



Eu tenho uma relação de amor e ódio com a produção teatral.
Mentira, meus sentimentos em relação a ela não são assim tão intensos. É uma relação de achar legal (e se dedicar insanamente) e achar um saco (e ter vontade de me jogar de um penhasco)... é, comigo a intensidade é sempre presente, não tem jeito...

Nesse momento, estou de saco beeem cheio. Estou pobre e precisando trabalhar, então se você estiver precisando de um produtor, estamos aí! Mas vontade mesmo, de atuar nessa área, eu não tenho.

Eu gosto de produção. Mas gosto num sentido muito amplo, o específico me exaure! Eu gosto de idealizar um projeto, imaginá-lo, escrevê-lo e vê-lo sendo viabilizado e concretizado. Isso me deixa bem feliz! Já, fazer as coisas do dia-a-dia (produção executiva) e depois prestar as contas (aaaahhhhh!), me cansa!

Sobre prestar contas é que eu quero falar aqui.

Não tenho problema com tabelas. Matemática era uma das matérias que eu mais gostava na escola, na minha época de CDF. Adorava fazer equações de segundo grau complexas, e ver aquela enoooorme expressão numérica se transformar num X = a tanto. E conferir o resultado no final do livro. E estar certo! Tabelas me dão o mesmo prazer. Elas organizam os números. E quando eles batem, é um prazer orgástico!

A questão é que tudo isso é inútil e nós sabemos. Eu já recebi críticas de um amigo produtor muito sério e reconhecido, por falar abertamente, nesse blogue, sobre as maracutaias que existem nesse mundo das produções. Já pensei que talvez não devesse fazê-lo, e talvez, se esse blogue fosse mais lido, eu não o faria. Mas sempre que releio os textos e quando, vez ou outra, algum desconhecido entra em contato para falar sobre o blogue, penso que não devo me render...

Em épocas de eleição, me choco todos os dias quando me deparo com o cinismo dos nossos candidatos e de tudo que está ao redor deles. Todos sabemos que corrupção existe em todos os partidos e em todas as instituições e que, quase sempre, não há a menor possibilidade de fazermos qualquer coisa acontecer se formos seguir todas as regras à risca. E sabemos também, por mais contraditório que isso possa parecer, que nem tudo que é ilegal é antiético. Mas continuamos chocados com o mensalão e tantos outros casos de corrupção quando eles vêm à mídia. E ninguém está de fato disposto a falar diretamente sobre isso. E também não estamos dispostos ao trabalho que existe para tentar desburocratizar as coisas. É beeem mais fácil manter a burocracia e agir por baixo dos panos do que tentar encontrar um caminho democrático de fazer as coisas de modo transparente.

Mas eu sou uma pessoa meio neurótica no que se refere à coerência. E sofro muito em fazer coisas que, ao meu ver, contrariem o meu ideal e o meu discurso no sentido da luta por uma sociedade mais justa. Por isso eu não consigo sequer comprar DVD pirata! Que dirá "trapacear" em uma prestação de contas do uso de dinheiro público.

Então, eu faço o caminho mais árduo! E são muitas e muitas tabelas. Muitas e muitas justificativas de alterações de orçamento. E muitos remanejamentos orçamentários.

É claro que nada disso garante que não haja desvio de verba. (É pra isso que servem as prestações de contas, não é mesmo? Pra tentar garantir que o dinheiro foi de fato usado para o que o proponente do projeto disse que seria. Não importa que o orçamento tenha sido aprovado e que, portanto, o parecerista tenha legitimado o uso do dinheiro da forma como o projeto se propôs a usá-lo. E que se tudo o que estava previsto foi feito da forma como estava previsto, obviamente o dinheiro foi usado para o que deveria ser usado. Vivemos num país onde todos são corruptos, até que se prove o contrário, então, haja burocracia para tentar evitar o desvio!)

Por conta dessas reflexões, por mais que eu adore as tabelas, eu sempre sofro em fazê-las, pensando que tudo é para provar que o dinheiro foi usado honestamente. Essa sensação de que estou fazendo para provar que não sou uma criminosa, é sempre depressiva para mim. Principalmente por saber que os criminosos têm recursos suficientes para ludibriar toda e qualquer estrutura de prestação de contas e que somente os inocentes ( se isso existe) perdem tanto tempo em tentar fazer as tabelas baterem para provar o que já está provado pela própria execução exemplar do projeto...

E pior do que esse período, de elaboração da prestação de contas, é a entrega. O momento em que você, com as suas tabelas organizadas, suas pastas, arquivos, papéis e mais papéis, está diante do funcionário responsável por receber aquela documentação toda. Funcionário este que, fingindo objetividade, questiona coisas sobre as quais você nunca foi questionado antes, em outras entregas de prestações de contas, e deixa passar outras que você temia ter que justificar ainda mais, também por uma experiência anterior. Além de se dar conta de falhas, que estavam passando despercebidas, somente no momento em que se depara com tal falha explícita diante dele, por conta do esmero da organização da documentação, que não deixa dúvidas e nem espaço para que algo seja ignorado...

O exercício do pequeno poder desses funcionários é, sem dúvida, o que mais me exaure, me deprime e me derrota no momento da entrega da prestação de contas.
E passar um dia todo, das 7h00 da manhã às 16h00, sem parar um segundo sequer, percorrendo a cidade de São Paulo, de ponta a ponta, para recolher documentos que comprovem coisas que já foram comprovadas, somente para satisfazer o capricho subjetivo de um desses funcionários, me causa uma verdadeira ojeriza.

Mas eu gosto de tabelas, e posso fazer a sua prestação de contas com louvor, caso você precise!